31 janeiro 2006

Perdida!
















Ontem recordei os meus tempos de filha única, que fui até bastante tarde.
As intermináveis férias no Alvor, nas mil e uma invenções que criava para afastar o tédio, que era ser sozinha no mundo dos adultos.
Fartei-me de rir de mim, ao recordar que para passar o tempo, me perdia.
Enfiava-me numa mata perto de casa, ía a correr, tapava os olhos, rodopeava e quando destapava os olhos, pensava... perdi-me! Fixe! Depois andava por ali, horas ou minutos, que naquela idade o tempo passa muito devagar...
Lembro-me das explorações que planeava, dos meus piqueniques sozinha, debaixo de uma árvore enorme que me deslumbrava, imaginava-a muito velha, que à sua sombra já se teriam sentado muitas pessoas, todas elas acompanhadas, pensava eu, a maior abandonada do mundo! O piquenique resumia-se a algumas peças de frutas e chocolates que ía guardando para a ocasião. Sempre de livro em punho, na altura lia afincadamente a colecção de livros "Uma Aventura". Tinha uma inveja daqueles putos e das gémeas, sempre a passarem fins-de-semana fora ou férias aqui ou ali. Para onde iam, tudo era uma Aventura! Pensava então no que poderia fazer sozinha para tornar as minhas intermináveis férias numa Aventura, já não digo igual, mas pelo menos com alguma emoção... conhecia a zona que circundava a casa, como conheço as palmas da minha mão. Quando deixei de me poder perder na mata, porque já a conhecia, comecei então a "perder-me" pela vida, ainda tão desconhecida. Curioso que hoje quando parto para uma qualquer "aventura", jamais tapo olhos e rodopio para me perder. Certo é (dizem) que com a idade vamos aprendendo algumas coisas, vamos sendo cautelosos... esquecem-se de dizer para não desaprendermos a emoção que é perder-nos e sentir sem medo o prazer de só sentir...

imagem: images.com

20 janeiro 2006

Carta a outro Pai






















Pai, não sei se te lembras de mim... mas sabes, eu lembro-me do teu rosto, do teu sorriso, de quando brincavas comigo e me punhas às cavalitas, lembro-me daquele jogo de futebol, aquele a que prometeste levar-me mas que nunca fomos, não deves ter tido tempo, é isso... eu sei que és um homem muito ocupado, mas eu tenho saudades tuas!
Se calhar achas que agora tenho outro Pai, porque a Mãe voltou a casar, mas não Pai! Não!
Sabes Pai, eu gostava de saber onde vives ou então que desses o teu número de telefone à Mãe, para eu poder ligar e falar contigo...
Sabes... eu tenho muitas saudades tuas, embora sendo ainda pequeno, tenho apesar de tudo memórias tuas, sério! talvez penses que nem me lembro de ti... mas não!
Sabes... tenho muitos pesadelos de noite, sonho contigo, choro, grito... sonho que uns ladrões te estão a levar e que por isso não podes vir ter comigo, é isso Pai?
Pai... tenta-te soltar desses ladrões, para me poderes vir ver, tenho tantas saudades tuas, penso tanto em ti... esses ladrões devem ser muito maus! Eles roubam o tempo...

Há Pais assim...

Escrevo isto em nome de alguém, que embora não sendo "meu", não me consegue deixar indiferente.


imagem: images.com