17 outubro 2007

Carta a "ele"






"...Naquele dia ela não levava o vestido, aquele que é suposto levar em dias com o principio daquele, também os sapatos eram normais, e nem sequer foi ao cabeleireiro.
Trocaram alianças sentados à mesa, o impacto não deve ter sido mesmo que trocá-las em frente a uma centena de pessoas, mas o príncipio era o mesmo.
A ideia era ser Feliz, somente e nada mais.

Cresceram juntos, mas em direcções opostas.
Ela sempre soube que não eras "fácil", que tinhas um feitio difícil.
Não te davas facilmente com os outros, sempre mostraste a tua agressividade e ela sempre a viu, penso que nunca se sentiu enganada afinal ela dizia conhecer-te como as palmas da sua mão.

Magoaste-a muito com o teu despeito por ela e depois com a tua falta de respeito.
Talvez por ela não ter levado o vestido, permitiste que a tratassem como a "sopeira".
Um dia ela fartou-se!
Quando se fartou disse-te, mas tu, que vives num mundo só teu, não entendeste, preferiste então fazer como em tudo na tua vida, fazer de conta que nada se passou nem se disse, assim pode ser que passe.
Ela fartou-se mais umas quantas vezes. Verbalizou várias vezes. Tu repetiste tudo as mesmas vezes.

Terminar a relação de uma forma civilizada foi o "cabo dos trabalhos", porque faltava civilidade da tua parte.

Ele fez sempre chantagem emocional, ameaças e quase desgraças.
Tocou sempre no ponto que sabe ser o seu mais fraco.
Sempre soubeste que por muitos defeitos que ela possa ter, nunca foi injusta, a injustiça dá cabo dela!

No meio de todas as chantagens e ameaças, lá andava ela, sempre a tentar proteger o "seu lado mais fraco" na tentativa de o proteger, da dor, do sofrimento, talvez da realidade... teimosa, ela sempre acreditou que o "seu lado mais fraco" tinha de ser protegido ainda que ela fosse atingida.

Fez concessões e permissões, que pensava serem boas para os dois... percebeu depois que afinal eram três... se calhar ela também conta... ou talvez não...
Quando pediu para também ser feliz, não acharam importante... quando pediu para serem os três felizes, achaste que não, que assim os dois estão bem e que ela... bem ela, serve de "polícia", cozinheira, passadeira e carrinha da escola durante a semana, que o melhor é ao fim de semana (no que lhe "pertence", porque o outro é teu) ficar a descansar da semana exaustiva que tem!

Ela desta vez não concordou...
Fez-te frente, disse-te: "não pode ser!".
Tu largaste o animal que há em ti.
Gristaste, insultaste, agrediste, ameaçaste... tudo isto em frente ao "seu lado mais fraco".

Ela chorou tanto... choraram tanto...
Teve de explicar algumas coisas ao "seu lado mais fraco"... doeu-lhe tanto... dói-lhe tanto! Teve de fazer o que sempre evitou, desta vez não te pode proteger.
Tornou-se urgente proteger-se a ela e a ele.

Disseste coisas tão feias! Ameaçaste com mentiras tão feias...
O que mais lhe dói foi ele ter visto, ter sido por nada, não teres razão absolutamente nenhuma...

Agora, está toda dorida... fala pouco, acho que o seu olhar perdeu aquele brilho que conhecemos. O seu sorriso... nunca mais o vi... deve ter perdido alguns anos de vida... mas sabes, acho que ela não se importa.

Custa-me ver-te jogá-lo contra ela, deturpar a verdade... custa-me ver a chantagem emocional que fazes com ele.
A ela dói-lhe não saber como ele está, porque embora a seu lado, existem coisas que ele não fala, ela sofre horrores por não saber o que vai naquela cabecinha... às vezes parece-me que está revoltado com ela... talvez ache que ela poderia ter permitido, ter feito de conta que não tinha acontecido, mas continuar amiga do Pai.

Não sei se ele um dia vai compreender ou não (a mim parece-me fácil entender), não sei se ele a acha má, não sei...
Porém ela tem a certeza que foi justa.
Quase que pediu a morte... mas não aguentava mais esta pressão psicológica.

Parece-me que ela sente que lhe arrancaram um qualquer membro essencial para o seu bom funcionamento.
Sente-se triste, mais que triste, talvez o último ser ao cimo da terra...
verdade é que te quer perdoar, que quer Paz e que fiquem todos bem, mas é verdade também que acredita que não mudarás e a sua vida será sempre mesma...

Verdade é também, que naquele dia não era preciso levar o vestido... tudo se resumiu a uma escritura, de uma simples casa..."